quarta-feira, 3 de junho de 2015

Trail da Raposa - Um trail que não mete água, não é trail que se preze...

Chega uma altura na vida em que o juízo fala mais alto que a loucura e a minha inscrição no Trail da Raposa foi fruto deste breve golpe de saúde mental. Depois de uma série de ultras e duas semanas de paragem, resolvi inscrever-me numa distância menor.

Se não fossem as sucessivas ofertas de bónus de quilómetros na distância do trail longo, uma festa de aniversário na sexta que se prolongou pela madrugada dentro, outra corrida matinal no sábado, uma sessão de paintball e mais uma noitada no sábado, até podiam pensar que o juízo me tinha batido à porta, mas não...uma boa dose de loucura tem que estar sempre presente na mente de um trailer, nesta procura incessante de sofrimento.

E assim fomos de madrugada, direção Paredes, com dois regressos das nossas atletas princesas após longo período de recuperação por lesão e outras duas estreias nas distâncias maiores. Há coisas que continuo sem perceber...um ambiente na praça principal de Paredes a tresandar de festa e só um cafezinho aberto, com tanto atleta a querer matar o vício... É verdade que todos tínhamos que apanhar um comboio, mas não havia pressas nenhumas..

No alinhamento para os 26km, mais parecia o pelotão para uma prova de meia maratona. Acho que nunca tinha visto tanto trailer junto para uma única distância. O sol brilhava, a ansiedade de começar e fugir do pico do calor era grande e as t-shirts caveadas prometiam cumprir na integra a sua função de nos manter frescos. Aquela largada de faz-de-conta para irmos ter todos ao comboio, serviu como um excelente aquecimento, o ambiente era de festa e não faltava gente a cantar: "Apita o comboio...". Gostei desta variante de invadir a estação da CP e de colorir o comboio com trajes de trailer.

Um breve olhar para a altimetria inspirou-me alguma tranquilidade, o percurso resumia-se mais ou menos à duas subidas jeitosas e mais umas quantas surpresas menores. Estava à espera de um trail rápido, embora soubesse que teria que ir com muita calma...a paragem e os abusos das noites anteriores podiam-me custar caro. Por isso, fui na ótica de curtir a paisagem, soltar as pernas e chegar fresquinho como nem uma alface. E assim foi, subidinhas mais ou menos picadinhos sem serem demasiado longas, uns bons troços com piso bom e umas descidas de apesar de alguma tecnicidade, bastante rápidas e sobretudo secas (coisa que já não me lembrava há algum tempo). Adorei a descida em rappel antes da senhora do salto e a própria senhora foi tratada com o carinho que ela merece. Passou-me pela cabeça saltar para o rio, mas consegui conter-me. Embora sempre alvo de alguma confusão, adorei o cruzamento com os caminhantes mais para o fim do troço. Gosto daquela sensação de admiração pelos loucos que vêm aí pelo monte abaixo. É o que o trail tem de bom, há respeito e admiração mútuo por todos os atletas. Fui pedindo desculpa à medida que fui passando, agradecendo e vi vários caminhantes a oferecer água aos atletas com já muitos quilómetros nas pernas, num gesto de 'estamos aqui todos para o mesmo'.


À chegada, e tal como previsto, tinha a frescura da alface, tinha as princesas à espera, tal como o coach e o amigo T, que já estava a sonhar com rojões. Foi bom ter ido para uma distância menor que a do ultra, senti-me lindamente. Mas nem por isso me ia safar da sessão de alongamentos. Afinal para quê fazer estas loucuras, se depois não houver um bocadinho de sofrimento. Fiz sessão de quarenta minutos de alongamentos na relva, com o sol a dar e repeti a dose depois da nossa última atleta ter chegado. Não só fiquei como novo, como devo ter rejuvenescido uns quantos anos.

Gostei deste trail, dos percursos, da excelente marcação, dos abastecimentos onde não faltou nada e do ambiente de festa ao longo de todo o percurso. E sim, molhei as sapatilhas várias vezes...porque um trail em Portugal que não mete água, é coisa para meninos de colégio. E as minhas Bushido, que são aquela máquina, já viram terra, água e pó digno de um verdadeiro trailer.

Parabéns às meninas pelo regresso sem percalços, às duas estreias que já pedem por mais, à Graça que apesar da lesão no joelho cumpriu corajosamente todo o percurso do trail longo, ao T que finalmente ganhou algum juízo  e à toda a organização pelo grande esforço de levar o trail por  caminhos maravilhosos, à um preço de pechincha.

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